Saiba mais sobreCuidados Paliativos na Geriatria
Nas últimas décadas temos assistido a um envelhecimento progressivo da população, assim como ao aumento da prevalência das neoplasias e de outras doenças crônicas. É notado que o aumento da expectativa de vida no Brasil não acompanhou a melhoria da qualidade de vida do idoso. O avanço tecnológico alcançado, em especial a partir da segunda metade do século XX, associado ao desenvolvimento da terapêutica, fez com que muitas doenças mortais se transformassem em doenças crônicas, levando os portadores dessas doenças à longevidade.
Apesar dos esforços dos pesquisadores e do conhecimento acumulado, a morte continua sendo uma certeza, ameaçando o ideal de cura e preservação da vida, para o qual nós, profissionais da saúde, somos treinados.
O cuidado paliativo é uma área de atuação da medicina que cuida de pacientes portadores de doenças que ameaçam a vida, cujo objetivo é prevenir, identificar e aliviar o sofrimento humano em diferentes dimensões, por uma abordagem multidisciplinar, possibilitando, assim, preservar a dignidade do ser humano no processo de finitude.
A prática paliativa no Brasil teve seu início na década de 1980 e conheceu um crescimento significativo a partir do ano 2000, com a consolidação dos serviços já existentes, alguns deles pioneiros, e a criação de outros não menos importantes. O acesso aos cuidados paliativos é restrito no nosso país, uma vez que os serviços se encontram limitados a hospitais de maior complexidade. E isso reflete na qualidade de morte dos pacientes.
Em geral, os pacientes idosos portadores de doenças fora de possibilidade de cura estão recebendo um tratamento desproporcional ao que necessitam e tendo uma qualidade de morte ruim. Tendo em vista a mudança do perfil epidemiológico da mortalidade aliada ao envelhecimento progressivo da população, torna-se de fundamental importância a identificação dos pacientes idosos portadores de doenças ameaçadoras da vida
Quais saõ os pilares do cuidado paliativo ?
São considerados quatro pilares do cuidado paliativo
Controle de sintomas:evitar desconfortos físicos, emocionais, espirituais e sociais estão entre os pontos centrais quando se trata de cuidados paliativos. Lidar com a dor em seus diferentes aspectos e prevenir desconfortos possíveis são prioridade. A chave está em assegurar o máximo de qualidade de vida.
Abordagem multidisciplinar:essa frente de atuação deve ser iniciada o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como o tratamento com quimioterapia, radioterapia ou outras terapias de controle do câncer. A integração de diferentes disciplinas contribui para o acompanhamento mais individualizado e humanizado do paciente. Isso leva em conta, além das questões clínicas de cada um, os aspectos psicológicos e espirituais na forma de cuidado ao paciente, incluindo todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações que impactam diretamente e indiretamente.
Comunicação:é preciso respeitar as escolhas de pacientes e família. O debate sobre as melhores alternativas de tratamento devem ser conversadas e compartilhadas, para que não seja implementada ou retirada nenhuma linha terapêutica sem que haja uma decisão conjunta com a equipe de saúde responsável. Além da comunicação com o paciente e seus cuidadores, a comunicação adequada entre as equipes é fundamental para um plano de cuidados alinhado e centrado no paciente.
Apoiar a família:os profissionais envolvidos na linha de cuidado colaboram para que as tomadas de decisões aconteçam da melhor maneira, ajudam a mediar conversas, prevenir o estresse do cuidador, e a lidar com o sofrimento durante a trajetória e também no período de luto.
Seus princípios são:
- Promover o alívio da dore de outros sintomas.
- Afirmar a vidae considerar a morte como um processo natural.
- Não acelerar nem adiar a morte.
- Integraros aspectos psicológicos e espirituaisno cuidado ao paciente.
- Oferecer umsistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível,até o momento da sua morte.
- Oferecer sistema de suportepara auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto.
- Promover a abordagem multiprofissional para focar nas necessidades dos pacientes e de seus familiares,incluindo acompanhamento no luto.
- Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso de vida.
- Ser iniciado o mais precocemente possível,juntamente com outras medidas de prolongamento da vida,como a quimioterapia e a radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes.
Nesse contexto ainda prospectivo, faz-se importante registrar que não há leis constitucionais sobre os Cuidados Paliativos no Brasil. Entretanto, diversos avanços nesse sentido ocorreram na última década. O Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que regulamenta e fiscaliza a prática médica, publicou diferentes resoluções diretamente relacionadas ao tema e que certamente promoverão reflexões e avanços importantes nessa área. Vale a pena destacar quatro delas: sobre a legitimidade da ortotanásia (Resolução CFM 1.805/06); sobre o novo Código de Ética Médica no qual os cuidados paliativos são diretamente mencionados (Resolução CFM 1.931/09); regra que define a Medicina Paliativa como área de atuação (Resolução CFM 1.973/12) e a Resolução CFM 1.995/12, sobre as Diretivas Antecipadas de Vontade.
Tais reflexões nos remetem à importância de o cuidado ser algo a ser compartilhado - e não apenas por quem atua na saúde ou em outras áreas do conhecimento, mas por toda a sociedade.